UMA VISÃO PARALÁTICA SOBRE A CRISE SUCESSÓRIA NO DIRETÓRIO DO PT-RN (2)

PARTE 2


Mas aqui se trata do real, do concreto, de quem vai presidir as convenções, reuniões, dar declarações, participar dos acordos partidários para a construção de alianças, isto impossibilita a dubiedade alverroesiana.
Outrora, a despeito de existirem outros agrupamentos e lideranças petistas potiguares, as rusgas entre MINEIRO e FÁTIMA eram resolvidas numa Síntese Paratática, pois se fazia necessário unir a militância petista para os embates eleitorais. Assim se deu em 2002, 2004, 2006, 2008, 2010 e 2012. Onde este procedimento serviu para dar vitórias eleitorais aos dois e fortalecer suas lideranças inter e extra muros petistas. As diferenças expressas nos processos internos eram dirimidas para a marcha eleitoral e adiadas para o próximo processo.
Por que isso era possível e agora não mais se faz?
A resposta está em no comportamento do PT potiguar para o pleito eleitoral em 2014.
Verdade que afloraram todos os ressentimentos dos embates passados, as desconfianças, os desencontros, mas e a política? O que propõe cada grupo?
É preciso voltar à gênese do partido para ver o quão próximas ou distantes são os posicionamentos das chapas. Na primeira década de criação do partido, nos anos 80 todos aqui éramos das correntes mais radicais, havia uma competição de esquerdismo, com requintes de crueldade como o Game Show do Datena “Quem fica de Pé?” onde quem erra é derrubado para o fundo do poço. Nos anos 90, com ingresso de quadros oriundos do antigo partidão, a saída dos que viriam a fundar o PSTU, houve um maior alinhamento com o caminho da maioria do PT Nacional, com MINEIRO se consolidando como grande liderança nas instâncias partidárias e em 1994 surge a maior expressão eleitoral do PT-RN que é FÁTIMA. Pelo caminho, lideranças sindicais e políticas como ALDEMIR LEMOS, JÚNIOR SOUTO, CIPRIANO e CRISPINIANO NETO, ficaram inicialmente sem um projeto claro e ao final do século XX alinharam-se aos projetos de FÁTIMA ou MINEIRO.
Este é o quinto Processo de Eleições Diretas (2000, 2004, 2006 e 2009). Nos quatro anteriores, FÁTIMA se apresentou como divergente da maioria da direção nacional para o interior do partido, mas como alinhada do governo central e do dia-a-dia palaciano em Brasília para o público externo. Isto apesar de contraditório não causava confusão na militância, pois se por um lado ela se postulava como crítica de “certas alianças”, portanto mais cautelosa e criteriosa que a direção nacional, por outro era cumpridora das resoluções do partido e também não fechava as portas para as alianças locais onde o PT ganharia, mas em última instância ela seria a maior beneficiária. MINEIRO por seu turno, sempre esteve com a chapa nacional, portanto favorável à política aliancista, mas no plano local o auge do seu grito do Ipiranga se deu nas eleições municipais de 2012 quando o PT enfrentou o processo sem aliados.
Mas neste PED Fátima e seu grupo nacional fizeram um deslocamento rumo a maioria da direção nacional, apoiando o mesmo candidato do grupo nacional de MINEIRO Ruy Falcão para presidente nacional. Isso mesmo, só os militantes do PT sabem, mas FÁTIMA e MINEIRO pediam votos para o mesmo candidato nacional, ainda que estivessem em chapas diferentes. Na chapa encabeçada por ERALDO/MINEIRO havia HUGO MANSO e a DS que apoiavam PAULO TEIXEIRA (2º colocado) e na liderada por OLAVO/FÁTIMA a Articulação de Esquerda apoiava VALTER POMAR (3º colocado).
Assim, era de se esperar que houvesse uma maior aproximação entre MINEIRO e FÁTIMA e não o contrário. Como se observa nos espelhos esféricos côncavos, as duas posições das principais figuras públicas do PT-RN se apresentavam em relação às alianças nacionais de forma invertida. Os que a queriam ampliadas aqui, queriam restringi-las no plano nacional e vice-versa.
O propósito abraçado por MINEIRO em 2012 de chegar à prefeitura de Natal exige no plano local restringir as alianças, pois quem ocupa a cadeira é o PDT, nosso aliado no plano nacional. FÀTIMA por sua vez quer chegar ao senado e para isso precisa do rebatimento da aliança para o plano local. Tornou-se impossível uma síntese paratática, por quê? Vejamos a evolução desta disjuntiva.
As disputas para a prefeitura com o nome de FÁTIMA deram a MINEIRO o papel de uma coordenação que longe da aparência tranquila, não transcorria sem entreveros. Eles conformavam um só corpo, como o personagem MASTER BLASTER no filme MAD MAX além da cúpula do trovão. MASTER sentava sobre o pescoço de BLASTER, dando-lhe caminho e este mesmo que relutando, saia a defender o território contra os inimigos e a bater em quem tentasse enfrentar a dupla.
BLASTER tem um grande corpo, músculos fortes, é mais jovem e enfrenta os inimigos com todo vigor. MASTER é franzino, mas experiente, dá ordens, organiza o governo diz o que todos devem fazer. Porém aqui temos uma diferença, pois a cada dia BLASTER ganhava mais experiência com as disputas e as responsabilidades do enfrentamento, desenvolvendo a inteligência emocional e se fazendo temer não apenas pelos músculos, mas também pelo tirocínio. MASTER por sua vez, criado em lutas internas, mas tendo que enfrentar os adversários em terrenos desconhecidos, se fortaleceu e galgou a disputa pelas massas, a despeito da musculatura eleitoral e em 2012 teve o seu LULA-LÁ de 1989 abortado pela falta de condições materiais (ainda que alguns do Apparatchik queiram atribuir ao empenho de militantes). Com isso o conflito entre MASTER e BLASTER se estabelece. BLASTER revela que sempre quis ser independente, trilhar seu próprio caminho sem precisar consultar ninguém e estava cansado de ser controlado, seja por MASTER ou pela organização. MASTER por seu tempo agora adquiriu musculatUra e quer se interpor também como interlocutor diante dos ora adversários, ora aliados.

Nenhum comentário :