UMA VISÃO PARALÁTICA SOBRE A CRISE SUCESSÓRIA NO DIRETÓRIO DO PT-RN (3)

PARTE 3


Além disso, enquanto que das outras vezes MINEIRO se localizava apenas no plano estadual, uma possível vaga na Câmara Federal e o sucesso de FÁTIMA na ida ao senado, levará a uma disputa de interlocução com o plano Federal.
Aqui reside a disputa de fundo que dá sentido à contenda: a comunicação com parceiros, aliados, adversários e o povo em geral. Para Pierre Bourdieu Assim, as relações de comunicação são, de modo inseparável, sempre, relações de poder que dependem, na forma e no conteúdo, do poder material e simbólico acumulados pelos agentes (BOURDIEU, 1998:11), ora, o presidente do PT terá a maioria do diretório e participará de todas as conversas para composições de chapas e quiçá do próximo governo estadual.
A prática política da terra dos Mororós, de Felipe Camarão e Nísia Floresta é que os partidos tenham donos e as conversas sejam celebradas entre os líderes. Nós do PT, nesta última década sempre temos provocado um certo desconforto por chegarmos com uma comissão, sem que isso desautorize nossas lideranças. Antes pelo contrário, nosso intuito é sempre ressaltar a unidade partidária. Mas assim não veem os outros partidos (exceção feita ao PC do B, que também desafia essa práxis conservadora) como tranquilos conversar com muitos, preferem no máximo dois interlocutores e reuniões curtas em oposição às nossas longas, muitas vezes cansativas e ratificáveis intervenções. O tempo da política para os senhores dela é precioso e não permite delongas na definição.
Refuto aqui a adjetivação de Acordão para que FÁTIMA venha a compor a chapa majoritária. Vamos dar o nome correto a cada coisa. Se o PMDB é aliado nacional e se deseja a cabeça de chapa no estado, o que há de errado? É incorreto conversar sobre o tema? O problema é quem definirá e comunicará o resultado das conversas e suas diferentes versões.
É este bólido que provoca no movimento atual do PT-RN o que se refere Zizek como lacuna paralática intransponível, onde há o confronto de dois pontos de vista intimamente ligados entre os quais não é possível nenhum fundamento neutro comum (ZIZEK, 2008: 15). A razão que move MINEIRO diverge da razão que move FÁTIMA, apesar de todos afirmarem que:
1-     A prioridade do PT-RN é a reeleição da presidenta DILMA e a unidade dos aliados aqui no estado para compormos um palanque vitorioso;
2-     O PT-RN apresenta para a disputa ao senado em 2014 o nome de FÁTIMA;
3-     O PT-RN buscará manter a cadeira na Câmara Federal e ampliar sua participação na Assembleia Legislativa.
Resolução neste sentido foi aprovada por consenso recentemente, a despeito das declarações do presidente eleito do PT-Natal Juliano Siqueira.
Ora, pois, se há a mesma estratégia, de fato, por que aumentou a divergência paralática interna ao ponto de ter saído para as páginas de jornal?
Comparo isso ao passageiro do banco do carona que é muito desconfiado do motorista. Ele sempre acha que o outro está dirigindo mal, que irá colidir, que está em alta velocidade, que não vai dar tempo para frear. Isto ocorre devido à visão em paralaxe. Para o motorista o objeto é visto de um ângulo, para o passageiro do banco do carona, de outro. Assim está a disputa pelo volante do carro 13 nas terras potiguares. É possível que nas negociações para 2014 se tenha que fazer sacrifícios e o motorista terá apenas que concordar com o passageiro da direita. Assim, ao invés de um táxi, é melhor ter um motorista particular. Essa desconfiança parece esquizofrênica, e por vezes reflete a esquizofrenia do rebatimento para o plano local da política de alianças nacional. Quando FÁTIMA se aproximou, MINEIRO se distanciou. O problema passa a ser então de psicanálise e não de política.
Qualquer que seja o desfecho dado pela Direção Nacional do PT ao caso, sairá desgastada a sucursal potiguar. É bom lembrar que qualquer dos que se proclamam vencedor, o fazem por menos de 0,5% segundo os próprios números. Assim, caso a comissão recursal dê razão a ERALDO/MINEIRO, a  outra chapa buscará enfraquecer dizendo ser uma vitória do tapetão, caso a contenda seja favorecida em prol de OLAVO/FÁTIMA, como ficarão as afirmações de urnas fraudadas (brejeiras) dadas anteriormente?
Não me parece que estamos ante uma possibilidade de uma “síntese paralática” para 2014, onde a despeito das diferenças, e sem uma síntese paratática, possamos marchar unidos. O problema será como seremos vistos por militantes, filiados, parceiros, aliados, adversários e pelo povo.
Nossa imagem de um partido organizado, com cada um na sua função, com a riqueza de detalhes expressada na principal obra de arte chinesa “ao longo do rio durante o festival Qingming”, que muitas vezes era espelhada para o povo está abalada, ou como o sorriso enigmático e charmoso da Mona Lisa que é vista sempre pelo militante apaixonado como uma quase profissão de fé. Ou ainda o cubismo de Picasso em Guernica que é como nos veem nossos aliados e adversários. Um exercício de afastamento até uma distância que não me aliene ao processo me faz enxergar o PT-RN representado pelo canibalesco Abaporu de Tarsila do Amaral.
Aqui vejo uma ponte entre as obras de arte e o processo do PT-RN, segundo JAMESON, as obras pós-modernas podem refletir a esquizofrenia na compreensão de Lacan, onde há uma ruptura na cadeia de significantes e uma quebra da série sintagmática entre o significante e o significado. O significado seria uma mera aparência, um efeito-de-significado, como a miragem objetiva da significação gerada e projetada pela relação interna dos significantes (JAMESON, 2006: 53). Quando há uma ruptura na relação e são quebradas as cadeias de significação, surge um amontoado de significantes sem relação entre si, denominado esquizofrenia.
Poderá nosso Abaporu petista potiguar despertar em algum Mário de Andrade a idéia de um movimento que transforme essa antropofagia em um sentido revolucionário? Deglutindo as práticas conservadoras, incorporando a necessidade de respostas urgentes às demandas do ente federativo para superar a catástrofe do governo demo-rosalbista e originando uma nova cultura transformadora e moderna no PT-RN?
A resposta positiva exigirá uma “Convivência Paralática”, onde se comece pelo respeito à decisão tomada, acatamento da deliberação partidária e tolerância para superar as desconfianças inerentes de não se saber a exatidão das diferenças, típicas da paralaxe.
Reafirmar o projeto que se dizia unânime de ampliar nossa representação federal com SENADO e CÂMARA, e estadual com mais vagas na Assembleia Legislativa é o único caminho que poderá nos reconciliar enquanto equipe. Unir a militância em torno desse objetivo, a despeito das rusgas é a tarefa hercúlea do próximo presidente do PT-RN. Oxalá ele se saia vitorioso.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

JAMESON, Fredric. Pós-modernismo, a lógica cultural do capitalismo tardio. Ática, São Paulo, 2006.
ZIZEK, Slavoj. A Visão em Paralaxe. Boitempo: São Paulo, 2008.
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Bertrand: Rio de Janeiro, 1998

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