juventude em debate e no embate

A juventude brasileira tem grande histórico de lutas e engajamento. Tanto que a grande imprensa colonizada se esforça enormemente em mistificá-la, criando um entendimento que se generaliza, non qual a juventude contemporânea é vista como sendo apática e descompromissada.

As ruas e a efervescência que vem de escolas e universidades desmentem essa falácia. Nossa juventude está cansada de ser o futuro da nação e busca cada vez mais exercer seu protagonismo no presente. Prova disso foi o grande encontro das juventudes populares e de esquerda no mês passado, cujo manifesto divulgamos neste blogue.

Nesse contexto, é fundamental a leitura do artigo de Leopoldo Vieira, que li no blogue do Zé Dirceu e republico abaixo.


Já é lugar comum escutar que a candidatura da senadora Marina Silva traria prejuízos à da ministra Dilma, especialmente entre o eleitorado jovem, proliferando confusão e dissidência inclusive na juventude do seu ex-partido. Dizer que o ambientalismo arrebata a juventude de hoje, que é o grande tema abraçado pela atual geração está no mesmo nível de afirmar que a UNE atualmente é “raquítica de ideais”. Arrogância geracional e carência total de dados.

Para comprovar o que digo não é preciso sequer apelar ao PNAD. Pesquisa da “insuspeita” (1)” MTV Brasil, o 4º Dossiê Universo Jovem, que entrevistou 2.579 pessoas de 12 a 30 anos, das classes A, B e C (ou seja, de classe média), em 9 cidades brasileiras (2) , revelou que 17% conhecem e valorizam as causas ambientais; 26% têm informação, mas não estão dispostos a sacrifícios pessoais; 20%, não valorizam as causas ambientais e não pretendem fazer nada em favor do planeta; 21% não dominam o assunto; e 16% são resistentes à reciclagem, não se preocupam com o futuro e contribuem muito pouco para a defesa do planeta (3).

A pesquisa também mostrou que esses jovens acreditam que não jogar lixo no chão já é uma ação suficiente para evitar o aquecimento global, principal temor ambiental de 24% deles. Números que aparecem no estudo porque são frequentes no grande noticiário e se manifestam na pesquisa com as mesmas limitações de abordagem dos jornalões impressos, televisivos, radiofônicos ou virtuais. Para completar, “a Natureza” surge nas respostas depois de questões como a violência, o desemprego e as drogas.

Não resiste sequer ao Roda Viva, programa da TV Cultura de São Paulo, a identidade Marina Silva-juventude. Entrevistada, ela mostrou incoerência diante das câmeras ao fugir de temas polêmicos como a descriminalização do aborto, já que defende que os políticos "mostrem a cara", ficando parecida ao modelo de figuras públicas que critica. Sobre a maconha, colocou-se contra a legalização. Não são assuntos periféricos, estão na raiz do problema do trio violência-criminalidade-encarceramento e gravidez precoce indesejada. Respectivamente.

Embora saibamos que, segundo pesquisas recentes, os jovens "comuns" tenham posições conservadoras semelhantes as de seus pais, o que poderia levar a crer que a omissão sobre aborto e opinião contra a legalização da maconha a favoreceriam, até pela retórica religiosa, sabe-se que a maior parte dessa juventude, das classes D e E, é alcançada pelo ProJovem em suas 5 modalidades (Urbano, Adolescente, Campo, Trabalhador e Prisional) - que se alia ao crescimento da economia e produz primeiro emprego - pelo Bolsa-Família, ProUni, proliferação dos IFETs, ampliação das vagas nas IFES, cotas sócio-raciais.

Tudo isso não quer dizer que o ambientalismo e a ecologia não sejam temas da maior importância, mas é preciso desmistificar que estejam no centro da pauta da juventude brasileira e que Marina seja a portadora desse hipotético voto e dessa causa. Razões do prejuízo que a senadora em campanha causaria para a pré-candidata do PT.

O Governo do presidente Lula tem muito a mostrar na área ambiental. Na verdade, o maior feito de todos os tempos, com direito à inédita inclusão do assunto na agenda pública da nação. Não é à toa que a maioria das organizações juvenis ou de apoio à juventude que trata do meio ambiente e da ecologia é ligada, influenciada e referenciada no PT.

Então quando a propaganda política começar, com nomes e números, não haverá dúvida em quem votar em 2010, escolhendo entre Dilma e Marina. Mesmos números e nomes que elevarão ao extremo o entusiasmo da juventude do PT com nossa candidata ao Planalto. E para a vanguarda que luta pelas políticas públicas de juventude, tentando enfrentar os dilemas da condição juvenil brasileira, não resta dúvida: Marina, pelas opiniões e omissões, está do outro lado do nosso combate.

Duas outras fábulas juvenis

O “toque de mídia” que tenta dar vida à candidatura Marina Silva como portadora da “grande causa” juvenil, busca também disputar a referência crítica de parcela dos jovens de classe média enaltecendo personagens como o “velho comunista” Roberto Freire e o “ex-exilado” José Serra. Numa fórmula que os lança à Europa e suas coalizões de “verdes, pós-comunistas e social-democratas”. O “supra-sumo” da coerência, ética e combatividade. Exemplos jovens militantes.

Falsas idéias. Falsos ídolos

Serra era presidente da UNE quando desfechado o golpe militar. No comício da Central do Brasil foi mais radical que Arraes e Brizola na defesa do projeto do governo Jango. Depois do primeiro de abril, esteve na primeira delegação que fugiu do Brasil, abandonando seu mandato. Não teve absolutamente nada a ver com a resistência estudantil que se seguiria até o AI-5, nem com a adesão destes às epopéias da luta armada. Voltou só quando a oposição já poderia atuar em terreno tranquilo. Hoje, renega até a cooperação estratégica entre a UNE presidida por ele e as reformas de base, numa declaração infeliz contra a direção da entidade dos dias de hoje, na qual afirmou que no seu tempo se era independente. Uma mentira casuísta, brilhantemente desmontada pelo professor Emir Sader, no artigo Duas Trajetórias Distintas.

Roberto Freire foi aprovado pelo SNI em 1970, no horror do AI-5, quando a esquerda, especialmente os jovens, estavam na cadeia sendo torturados e assassinados, foi nomeado pelo mais feroz dos ditadores, Médici, procurador do Incra. O jovem advogado pernambucano Roberto João Pereira Freire tinha de 28 anos. Ele não era um qualquer, tal qual a função que recebeu, pois era militante do PCB desde o tempo de faculdade. Ele se formou aos 24 anos pela UFPE.

É, por isso, pertinente a pergunta do jornalista Sebastião Nery, no artigo A Estranha História de Roberto Freire, de Carta O Berro: “Será que os comandantes do IV Exército e os generais Golbery (governo Castelo), Médici (governo Costa e Silva) e Fontoura (governo Médici), que chefiaram o SNI de 64 a 74, eram tão debilóides a ponto de nomearem procurador do Incra, o órgão nacional encarregado de impedir a reforma agrária, exatamente um conhecido dirigente universitário comunista e aliado do heróico Francisco Julião nas revolucionárias Ligas Camponesas?”

A menção a qualquer liderança do DEM só nos remeteria à Arena Jovem ou a “playboys” sem história, que iniciaram sua vida pública por impulso de seus pais ou avós visando a renovação oligáquica. Aécio, embora não seja oligarca, é este segundo caso, forçando a todo custo a idéia de que seria o governo que seu avô Tancredo não pode realizar. Outro “toque de mídia”.

(1) Insuspeita de ser a tradutora da linha demo-tucana para a juventude classe média, ligada que é, no país, ao grupo Abril, o mesmo da Revista Veja. Em 2006, a MTV Brasil lançou a vergonhosa campanha dos Tomates, onde desestimulava o voto juvenil e o alistamento eleitoral facultativo aos 16 anos.
(2) As cidades foram Belo Horizonte, Brasília, Manaus, Porto Alegre, Salvador, São Paulo, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e Recife.
(3) Seguindo seu estilo “Superinteressante”, o Dossiê classifica a juventude na ridícula nas seguintes categorias: : comprometidos, teóricos, refratários, intuitivos e ecoalienados.



Leopoldo Vieira é autor do blog Juventude em Pauta!

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