Por Nicholas Kristof, do New York Times
Tradução: Eloise De Vylder
Tradução: Eloise De Vylder
O sexismo parece ser mais forte. Os americanos têm afirmado nas pesquisas de opinião que preferem votar num negro a votar numa mulher, e Shirley Chisholm (uma mulher negra que concorreu à presidência em 1972) sempre disse que enfrentou mais preconceito por causa do sexo do que de sua raça.
Ainda assim, a maior intolerância nessas eleições não diz respeito à raça ou ao sexo. E sim à religião.
Os boatos dizem que Obama é um muçulmano não declarado que planeja impor a lei do Islã no país. Incrivelmente, ele é até mesmo acusado - sem brincadeira! - de ser o Anticristo.
Defensores dessa teoria oferecem explicações teológicas detalhadas para provar que ele é o Anticristo, e a prova é que ele diz ser cristão - afinal, é o que o Anticristo diria, não é mesmo? Os rumores circulam tanto que o jornalista Glenn Beck da CNN perguntou ao reverendo John Hagee, um evangélico conservador, quais são as chances de Obama ser o Anticristo.
Esses rumores fanáticos são o equivalente americano das acusações sobre judeus que circulam em alguns países muçulmanos. Elas não são tanto um golpe contra um candidato, mas sim uma calúnia contra toda uma religião. Elas salientam o fato de que, para muitos americanos fanáticos no século 21, chamar alguém de muçulmano continua sendo uma ofensa.
Há um paralelo com as campanhas presidenciais do século 19 e início do século 20, em que uma das formas mais comuns de atacar um candidato era sugerir que ele era em parte negro, ou que pelo menos defendia o casamento entre raças. Por exemplo, os federalistas acusaram Thomas Jefferson de ser "filho de uma índia mestiça, com um pai mulato da Virgínia". E a palavra "miscigenação" foi cunhada em 1863 e 1864, nas acusações de que Abraham Lincoln secretamente conspirava para que os negros pudessem se casar com brancos, especialmente com americanos de ascendência irlandesa.
Não faz tanto tempo, na campanha presidencial de 1920, cerca de 250 mil cartas foram enviadas a eleitores acusando Warren Harding de ser descendente de um "negro das Índias Ocidentais. Que Deus salve a América da vergonha internacional e da ruína doméstica".
Olhando para trás para essa história, é de se desejar que o candidato não tivesse respondido apenas com um "Não, eu não tenho nenhum ancestral negro", mas também dizendo "E se tivesse, qual é o problema?".
Da mesma forma, com uma multidão de pessoas espalhando rumores falsos de que Obama é muçulmano, a resposta mais apropriada é uma negação seguida da pergunta: "E qual é o problema se eu fosse?".
Com certeza, isso não é uma resposta politicamente realista. Uma pesquisa da Gallup em 2007 revelou que 94% dos americanos disseram que votariam em um candidato negro para presidente e 88% para uma mulher. Por outro lado, uma pesquisa do Los Angeles Times de 2006 revelou que apenas 34% dos entrevistados afirmaram que votariam em um muçulmano para a presidência.
Mesmo que o preconceito seja dirigido para um tema escolhido, como religião ou cabelos compridos, continua sendo preconceito. É possível imaginar que os católicos têm todo direito de chegar à presidência enquanto fazem oposição a um candidato católico em particular que baniria a contracepção; da mesma forma, é possível acreditar que os muçulmanos têm todo direito de chegar ao poder sem necessariamente abraçar a candidatura de determinados muçulmanos que defendem enrolar todas as mulheres em burkas.
A seu favor, Obama falou sobre o Islã com respeito (ele disse para mim no ano passado, abertamente, que o chamado muçulmano para as orações é "um dos sons mais bonitos da terra ao entardecer"). Se ele tivesse de ir mais longe - "e daí se eu fosse muçulmano?" -, muitos americanos veriam isso como a confirmação de que ele é um terrorista sunita, agente da al-Qaida e parte de um plano complementar ao 11 de setembro: "se você não consegue chegar à Casa Branca com um avião seqüestrado, então invada o Salão Oval usando as urnas".
Esta é uma situação em que Hillary Rodham Clinton e John McCain deveriam tomar a iniciativa e denunciar a disseminação do medo em relação a Obama como sendo discurso fanático. As fofocas que se referem ao candidato como "Barack Hussein Obama" e rumores de que ele freqüentou uma madrassa (escola islâmica) são o equivalente religioso das ofensas raciais, e McCain e Clinton deveriam denunciar isso de maneira veemente. Essa é a chance que eles têm de mostrar liderança.
Há uma semana, quando perguntaram a Clinton em uma entrevista na televisão se Obama era muçulmano, ela negou com firmeza - mas então acrescentou, desafortunadamente, "até onde eu sei". A seu favor, McCain repreendeu um âncora de rádio que repetidamente se referia a "Barack Hussein Obama" e mais tarde o chamou de candidato da Manchúria.
Martin Luther não era um modelo de tolerância, mas mesmo assim assumiu a seguinte posição: "Prefiro ser governado por um turco sábio a ser governado por um cristão tolo". Nessa campanha presidencial, devemos aspirar a ter uma mente tão aberta como pelo menos os alemães do século 16.
Ainda assim, a maior intolerância nessas eleições não diz respeito à raça ou ao sexo. E sim à religião.
Os boatos dizem que Obama é um muçulmano não declarado que planeja impor a lei do Islã no país. Incrivelmente, ele é até mesmo acusado - sem brincadeira! - de ser o Anticristo.
Defensores dessa teoria oferecem explicações teológicas detalhadas para provar que ele é o Anticristo, e a prova é que ele diz ser cristão - afinal, é o que o Anticristo diria, não é mesmo? Os rumores circulam tanto que o jornalista Glenn Beck da CNN perguntou ao reverendo John Hagee, um evangélico conservador, quais são as chances de Obama ser o Anticristo.
Esses rumores fanáticos são o equivalente americano das acusações sobre judeus que circulam em alguns países muçulmanos. Elas não são tanto um golpe contra um candidato, mas sim uma calúnia contra toda uma religião. Elas salientam o fato de que, para muitos americanos fanáticos no século 21, chamar alguém de muçulmano continua sendo uma ofensa.
Há um paralelo com as campanhas presidenciais do século 19 e início do século 20, em que uma das formas mais comuns de atacar um candidato era sugerir que ele era em parte negro, ou que pelo menos defendia o casamento entre raças. Por exemplo, os federalistas acusaram Thomas Jefferson de ser "filho de uma índia mestiça, com um pai mulato da Virgínia". E a palavra "miscigenação" foi cunhada em 1863 e 1864, nas acusações de que Abraham Lincoln secretamente conspirava para que os negros pudessem se casar com brancos, especialmente com americanos de ascendência irlandesa.
Não faz tanto tempo, na campanha presidencial de 1920, cerca de 250 mil cartas foram enviadas a eleitores acusando Warren Harding de ser descendente de um "negro das Índias Ocidentais. Que Deus salve a América da vergonha internacional e da ruína doméstica".
Olhando para trás para essa história, é de se desejar que o candidato não tivesse respondido apenas com um "Não, eu não tenho nenhum ancestral negro", mas também dizendo "E se tivesse, qual é o problema?".
Da mesma forma, com uma multidão de pessoas espalhando rumores falsos de que Obama é muçulmano, a resposta mais apropriada é uma negação seguida da pergunta: "E qual é o problema se eu fosse?".
Com certeza, isso não é uma resposta politicamente realista. Uma pesquisa da Gallup em 2007 revelou que 94% dos americanos disseram que votariam em um candidato negro para presidente e 88% para uma mulher. Por outro lado, uma pesquisa do Los Angeles Times de 2006 revelou que apenas 34% dos entrevistados afirmaram que votariam em um muçulmano para a presidência.
Mesmo que o preconceito seja dirigido para um tema escolhido, como religião ou cabelos compridos, continua sendo preconceito. É possível imaginar que os católicos têm todo direito de chegar à presidência enquanto fazem oposição a um candidato católico em particular que baniria a contracepção; da mesma forma, é possível acreditar que os muçulmanos têm todo direito de chegar ao poder sem necessariamente abraçar a candidatura de determinados muçulmanos que defendem enrolar todas as mulheres em burkas.
A seu favor, Obama falou sobre o Islã com respeito (ele disse para mim no ano passado, abertamente, que o chamado muçulmano para as orações é "um dos sons mais bonitos da terra ao entardecer"). Se ele tivesse de ir mais longe - "e daí se eu fosse muçulmano?" -, muitos americanos veriam isso como a confirmação de que ele é um terrorista sunita, agente da al-Qaida e parte de um plano complementar ao 11 de setembro: "se você não consegue chegar à Casa Branca com um avião seqüestrado, então invada o Salão Oval usando as urnas".
Esta é uma situação em que Hillary Rodham Clinton e John McCain deveriam tomar a iniciativa e denunciar a disseminação do medo em relação a Obama como sendo discurso fanático. As fofocas que se referem ao candidato como "Barack Hussein Obama" e rumores de que ele freqüentou uma madrassa (escola islâmica) são o equivalente religioso das ofensas raciais, e McCain e Clinton deveriam denunciar isso de maneira veemente. Essa é a chance que eles têm de mostrar liderança.
Há uma semana, quando perguntaram a Clinton em uma entrevista na televisão se Obama era muçulmano, ela negou com firmeza - mas então acrescentou, desafortunadamente, "até onde eu sei". A seu favor, McCain repreendeu um âncora de rádio que repetidamente se referia a "Barack Hussein Obama" e mais tarde o chamou de candidato da Manchúria.
Martin Luther não era um modelo de tolerância, mas mesmo assim assumiu a seguinte posição: "Prefiro ser governado por um turco sábio a ser governado por um cristão tolo". Nessa campanha presidencial, devemos aspirar a ter uma mente tão aberta como pelo menos os alemães do século 16.
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