Barack Obama chegou a ser considerado um azarão, um fenômeno passageiro que não teria fôlego para se consolidar na disputa pela indicação democrata à disputa presidencial norte-americana. De azarão, ele ascendeu à posição de favorito, numa campanha marcada por discursos empolgantes e repleta de simbolismo.
No seu posicionamento sobre os temas econômicos e políticos – e mesmo em relação à guerra ao Iraque – Obama pouco se distancia de sua principal concorrente, a senadora Hillary Clinton. A grande diferença entre os postulantes parece estar mesmo naquilo que eles representam, no signo e não no significante. E nesse aspecto, Obama traz incontáveis vantagens em relação à Hillary, que representa a consolidação de uma hegemonia familiar que teve início no primeiro governo de Bush pai e pode levar os EUA a quase três décadas de poder na mão de apenas duas famílias, como foi discutido na postagem anterior.
Filho de um imigrante queniano e enteado de um cidadão da Indonésia, onde foi criado e fez seu discurso primário, Obama representa uma realidade completamente distinta daquela que normalmente figura no cenário político americano. Negro, sua vitória poderá representar uma “importante mudança na auto-imagem do povo americano” como argumenta matéria da revista Carta Capital.
Obama se transformou num símbolo de mudanças. E sabe disso. Em seus discursos ele fala de mudar o mundo, de sonhos, de transformação. É considerado por muitos o maior orador de sua geração. Aliou muito bem esse seu talento inquestionável com as palavras ao sentimento de esperança e ao desejo de mudanças de uma época marcada pela guerra e pelo terror. Assumiu pra si o papel de baluarte de profundas transformações, ainda que em seu conteúdo programático se apresente uma política que pode ser considerada tradicional.
O racismo é uma triste e pungente realidade nos EUA. Por isso, a grande ascensão da candidatura de Obama não pode ser de forma alguma subestimada. Ele é – também – vítima do preconceito racial e sua vitória representaria uma derrota do secular racismo da ampla parcela conservadora da sociedade norte-americana.
Obama possui hoje uma pequena, mas expressiva, vantagem numérica sobre sua rival. Sua campanha vem crescendo e tende a permanecer nesse rumo. Ele não pode mais ser considerado um azarão e podemos até mesmo esperar com certa naturalidade que consiga vencer as prévias e se torne o postulante democrata à presidência dos EUA, o que o colocaria numa disputa muito interessante com John McCain. Uma disputa com sua presença certamente seria a oportunidade para um proveitoso debate na sociedade norte-americana, sobre sua própria constituição e identidade e sobre sua relação com o restante do mundo. Apesar de suas semelhanças programáticas com Hillary – e até mesmo com McCain –, Barack Oabama representa uma saudável novidade na política mundial, um sopro de tolerância e esperança vindo da maior potência do mundo. Sua vitória seria muito bem vinda. Se ela não trouxer consigo as mudanças que são necessárias, ao menos terá rompido a barreira que diz que elas não são possíveis.
Um comentário :
Muito bom esse seu post.
Acredito que seja importante a vitória de OBAMA para mudar o pensamento da Comunidade Internacional quanto aos Estados Unidos.
Ele mesmo diz que uma festinha em sua é uma mini reunião da ONU, pois seu pai é africano, sua mae é branca e seu padrasto é asiático.
Veremos o que acontecerá.
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