24M: VITÓRIA DA ESQUERDA NA ESPANHA

24M: VITÓRIA DA ESQUERDA NA ESPANHA

    



   Um “Terremoto político na Espanha”, assim o principal jornal francês, o Le Monde noticia em suas páginas o resultado das eleições municipais desse domingo 24 de maio de 2015 na terra de Miguel de Cervantes. O grande derrotado foi o primeiro-ministro Mariano Rajoy e seu Partido Popular (PP) da direita neoliberal e principal gerente dos planos antipopulares da troika - Comissão Europeia, o Banco Central Europeu (BCE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).

     Também o PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol) saiu derrotado pois junto com o PP viu desaparecer 3 milhões de votos da votação do pleito passado. Este deslocamento se deu para as novas agremiações políticas: “AHORA PODEMOS” e “CIUDADANOS”, com um programa anti-ajuste econômico, contra a corrupção e de democracia participativa.
     As eleições desse 24M parecem inaugurar uma nova era na política europeia. Algo como o surrealismo catalão de Salvador Dali e Juan Miró ou o cubismo de Pablo Picasso, que nascido em Málaga teve sua maior expressão em Barcelona. Quiçá esta vitória signifique a revolução do tic-tac no futebol da copa de 2010 com Iniesta, Xavi, Xabi Alonso e Davi Villa, ou o Barça de Guardiola que sob o comando de Messi e a raça de Carlos Puyol maravilhou o mundo do futebol.
O certo é que estamos diante de um fato novo no país que tem o sexto PIB da Europa e uma influência sócio-política-cultural que ultrapassa o Atlântico e o Mediterrâneo. A vitória da esquerda certamente influenciará a América Espanhola e porque não a “América Ibérica”? 
origem dos dois maiores agrupamentos recém-criados (PODEMOS e CIUDADANOS) é no movimento 15M, o movimento dos Indignados, um movimento de cidadãos formado em 15 de maio de 2011, portanto há apenas quatro anos, com a intenção de promover uma democracia participativa e o fim da bipolarização PP-PSOE (binômio apelidado PPSOE), o domínio de bancos e corporações e uma maior divisão de poderes para ampliar a democracia. Como partido, ambos tem apenas dois anos de vida e contam com jovens líderes, Pablo Iglesias e Albert Rivera, respectivamente, midiáticos e com grande poder de atração da juventude e daqueles que estão enfadados da política tradicional. Ciudadanos tem sede na Catalunha (começou por se chamar Ciutatans) e teve como impulso inicial a resistência ao nacionalismo catalão. O PODEMOS nasceu do espírito do movimento dos indignados do 15-M e surgiu como dissidência da Esquerda Unida(IU), um agrupamento que reúne o Partido Comunista Espanhol (PCE), o Partido Socialista da Catalunha (PSUC), Partido Socialista de Ação (PASOC), Partido Humanista e vários coletivos trotsquistas e descendentes do stalinismo. A negação de um lugar para Pablo Iglesias disputar as eleições parlamentares europeias de 2014 obrigou a constituição do PODEMOS.
Ambos os coletivos agora recebem os milhões de votos deixados órfãos pelo desgaste do bipartidarismo. O voto no Podemos é para a maioria dos espanhóis a identificação com a esquerda radical. Já Ciudadanos apresenta-se como um partido de centro, segundo o jornal Diário de Notícias, procura o equilíbrio entre o liberalismo político e econômico e o progressismo social. Entre os seus votantes há muitos decepcionados com o PP.
    O resultado eleitoral foi devastador para o PP apesar de ser o mais votado. O editorial jornal EL PAÍS desta segunda-feira 25 de maio de 2015 traz o título “CAMBIO PROFUNDO”, ou seja, MUDANÇA PROFUNDA, para expressar o tamanho da guinada eleitoral. Isto sem considerar o fato de que duas mulheres de esquerda, Manuela Carmena e Ada Colau serão as prefeitas das duas maiores cidades, Madri e Barcelona, respectivamente. Carmena uma juíza que foi no passado advogada dos trabalhadores na ditadura de Franco e membro do PCE, Ada Colau, uma ativista dos movimentos sociais que em 2013 foi detida pela polícia nas manifestações de despejo dos que deviam as hipotecas imobiliárias.
   Também nas 13 eleições das províncias autônomas o PP perdeu todas as maiorias absolutas de que dispunha (incluindo no reduto Castilla e Leão), estando também dependente dos partidos de esquerda para saber se governa nas autonomias.
   É sem dúvida um forte abalo sísmico na política europeia que sucede ao de menor magnitude que foi a vitória do Syryza na Grécia e que prenuncia o desempenho da plataforma TEMPO DE AVANÇAR em Portugal.
   O agrupamento petista "MENSAGEM AO PARTIDO" simpatiza com a plataforma de PODEMOS e vê seu crescimento como sinônimo da esperança da renovação da esquerda.
   Oxalá estes ventos soprem por aqui, a começar pelo V Congresso do PT constituindo uma nova direção para resignificar o maior partido da esquerda brasileira.

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