ALGUMAS REFLEXÕES A COMPARTILHAR COM O PT - RN

Companheiras e companheiros,
                                                                  desejo a todos que tenhamos um bom encontro e saúdo os dirigentes e aos que foram candidatos no último pleito eleitoral, elevando o nome de nosso querido PT. Cumprimento a todos na pessoa de Maria do Sindicato, que liderou a bonita vitória sobre uma oligarquia que há anos oprimia o povo de Pureza, uma pequena cidade nas cercanias de Natal.
Neste pequeno município esquecido pelos poderosos apesar do solo fértil e da proximidade com a capital, Maria liderou a unificação da nossa militância, construiu um arco de alianças de forças que antes nunca se imaginaram juntas, tanto eles como nós não queríamos esta união anteriormente, e apresentou uma proposta de esperança aos purezenses convencendo a maioria e vencendo.
Maria não teorizou, não elaborou belos e coerentes programas de governos, não fez grandes discursos, nem teve tempo de rádio ou televisão. Maria não teve marqueteiro, coordenador de campanha, então como foi vencedora?. Usou a teoria política aprendida com nosso presidente LULA: unir o partido, estabelecer alianças e convencer o povo. Deve ter testado várias hipóteses em sua cabeça, recuado de muitas idéias, avançado em outras. Há quatro anos atrás, de MARIA DO SINDICATO ela se tornou MARIA DO PT, disputando a eleição e ficando em terceiro lugar entre três concorrentes. Nestes 48 meses soube se transformar de MARIA DO PT para MARIA DE PUREZA, unificar forças díspares, conversar com gente que já foi até adversário nosso, dividir as hordas inimigas e se tornar MARIA PREFEITA.
Obrigado pela lição MARIA PREFEITA DE PUREZA, MARIA DO SINDICATO, MARIA DO PT! Você nos ensinou um caminho que poderemos construir no Rio Grande do Norte se esta for a vontade da maioria de nosso partido.
Faço este introdutório para que possamos entrar na discussão sobre a situação de nosso estado. Sem que possamos isolar a terra de Poti do cenário nacional, há uma constatação a fazer: estamos ilhados. Senão vejamos:
a)      Somos o único estado governado pelo DEM;
b)      A prefeita da capital foi afastada e tinha apenas 1% de apoio;
c)       A governadora tem a desaprovação de 75% da população;
d)      Os índices de educação e saúde são os piores da região nordeste e se encontram entre os piores do país;
e)      A economia decresce, a produção de petróleo e gás cai, o turismo diminui, há desinvestimento;
f)       Não temos um planejamento de logística (porto, estradas, aeroporto), a malha viária está degradada; nem também planejamento para a agricultura, ou para o setor mineral, ou de energia, ou de tecnologia e inovação;
g)      E o desempenho eleitoral do PT, bem como nossa presença sindical e política é das mais fracas do país.
Ou seja, politicamente, pela esquerda ou pela direita, o estado está em dicotomia com o país. Isto é fato!
Nossa tradição judaico-cristã nos leva a encontrar culpados, crucifica-los, depois perdoá-los e tentar ressuscitá-los. Mas a ressurreição política nunca dá a vida eterna. Após a condenação, o ser político não volta mais a ser o mesmo. As chagas, as manchas, as marcas permanecem vivas e sempre voltam a assustar como nos filmes de Hitchcock. Por que isto ocorre nesta extremidade do nordeste setentrional brasileiro?
Levanto uma hipótese: é uma questão do DNA do PT. Não acompanhei a fundação do PT aqui em terras potiguares, estava em Belém do Pará, depois em 1985 fui morar no Rio de Janeiro e somente em 1987 aportei na cidade do sol. Mas por ter acompanhado a história que construímos desde aquele 10 de fevereiro de 1980 no colégio Sion em São Paulo, quando Lula chamava a fundação de um partido de trabalhadores, sei das forças que deram origem ao nosso PT. São os cinco caudais do Petismo que sublinho e negrito abaixo.
Em primeiro lugar um poderoso movimento operário, liderado pelo ABC Paulista, mas também tendo força no cinturão industrial de Porto Alegre, Belo Horizonte e Contagem, Campinas e Salvador (nestes quatro últimos, além de metalúrgicos haviam os petroleiros), protagonistas de grandes greves de 1977 que se estenderam até 1983, e que viriam a originar a CUT, quando unificou os Bancários e os professores, em especial em São Paulo e Minas Gerais.
Ao lado desses sindicalistas, se colocaram os artistas e intelectuais de esquerda, que combatiam a ditadura e que estavam asfixiados, loucos por liberdade de expressão e anistia. Também se juntaram as dezenas de correntes de esquerda dos partidos clandestinos, entre elas as oriundas do PCB e do PC do B e as trotsquistas (como a Convergência Socialista, da qual me orgulho de ter feito parte, e reivindico os erros e acertos). Mas havia um elemento muito forte, unificador, universalizador, católico, eram as comunidades eclesiais de base da Igreja Católica (no Pará, havia também da Igreja Luterana), que atuava, disputava, mas coesionava e trazia consigo o respeito dos políticos democratas do MDB chamados de autênticos(como Suplicy, Valdir Pires, etc.).
E aqui pelas terras de Dona Militana e Clara Camarão? O Novo sindicalismo cutista só viria a ter expressão no movimento sindical no final dos anos 80 com criação do SINTE e a vitória nos petroleiros. Os artistas e intelectuais de esquerda gravitaram em torno do PC do B e do PMDB, as correntes de esquerda se dividiam (e parece que aqui é um capítulo a parte, porque é desde a resistência Pré-Vargas), mas é certo que eram diminutos grupos que se digladiavam sem que as elites se sentissem muito preocupadas. A Igreja Católica potiguar é majoritariamente conservadora, sendo destas dioceses a origem de um símbolo do conservadorismo católico brasileiro D. Eugênio Sales. O PMDB? Este não produziu aqui qualquer democrata sincero, que pudesse fazer um deslocamento a esquerda.
Quem então construiu o PT? A juventude universitária e alguns sindicatos rurais. È bom salientar que a maioria dos sindicatos rurais só veio ao encontro do petismo no final dos anos 90, quando já tínhamos quase 20 anos de fundação!!!
O DNA da molécula potiguar petista é dominado por um filamento de disputa que brota das dificuldades do homem do campo de municípios pobres como Poço Branco, Pureza, Santo Antônio, São Pedro, Riachuelo, entre outros, ao lado de sinceros jovens que lutavam para se afirmar em uma sociedade conservadora. Nosso GENE da UNIDADE, da UNIFICAÇÃO, de propor melhorias ao corpo todo é muito frágil, por isso não conseguimos nestes 32 anos elaborar um projeto para o elefante potiguar. Como a elite também não conseguiu elaborar um novo projeto, o último foi a troika petróleo-turismo-agroindústria, nosso paquiderme está combalindo.
Chamo atenção para esta responsabilidade. Não tenho respostas prontas, desconheço se alguém as tem, mas tenho as perguntas que compartilho agora com vocês:
1-      Quais nossas propostas para reverter o quadro educacional do estado? O analfabetismo, a evasão, a qualificação profissional?
2-      Quais nossas propostas para mudar o quadro da saúde pública?
3-      Como fixar as pessoas em pequenos municípios ?
4-      Que esperanças podemos dar a juventude potiguar?
5-      Como avançar economicamente na federação e distribuir renda, melhorando a qualidade de vida de nosso povo?
6-      Como sermos mais incisivos no pacto federativo e podermos participar dos grandes projetos como a transposição do Rio São Francisco ou a Transnordestina?
7-      Como fazer com que os projetos em andamento (Copa 2014, Aeroporto, duplicação das rodovias federais, investimentos em energia eólica e solar) sejam revertidos em benefício da maioria de população?
8-      Como fazer de nossas universidades e institutos federais Centros de Inovação Tecnológica e empreendedorismo para posicionar melhor o estado do Rio Grande do Norte no cenário nacional e mundial?
Estas e muitas outras perguntas pairam sobre meu pescoço, atormentam meu juízo e espero, sinceramente, que atormente e de muitos outros companheiros.
Porque se não for para apresentar propostas e soluções ao dia-a-dia da maioria da população e em especial daqueles que mais necessitam da política, ou seja, a parcela mais pobre da população, de que vale a militância?
Posicionar por A, B ou C por mero seguidismo dos grandes líderes não constrói qualquer projeto sólido, pelo contrário, acaba por provocar desinteresse, desesperança e afastamento.
A situação eleitoral que brota das urnas de 2012, a despeito de significar uma melhora, não coloca o PT potiguar como protagonista da política. A linda campanha de Natal protagonizada pela candidatura Mineiro, que recolocou entre nós laços de unidade e reaproximou setores progressistas da classe média, no âmbito parlamentar nos deu apenas duas representatividades (Lucena e Hugo Manso), sem que tivéssemos retomado o diálogo com setores estratégicos como sindicalismo, juventude, mulheres e pequenos/médios empresários. O desempenho do fenômeno ultra-esquerdista Amanda Gurgel será instrumento de ataque contra nós a ser utilizado pela ultra-esquerda e pela direita reacionária.
No âmbito da grande Natal seguimos com representação parlamentar apenas em são Gonçalo do Amarante, recuperamos um mandato em Mossoró (mas já tivemos dois), mantivemos Currais Novos, mas recuamos em Caicó. Nosso desempenho nos 20 maiores municípios do estado não nos permite dizer que fomos vitoriosos ou que protagonizaremos as principais decisões.
Nossas heroicas vitórias em Parelhas, Ipanguassu, Pureza, precisam ser acompanhadas pelo fortalecimento do partido e pelo permanente acompanhamento da direção estadual, senão se transformam em efemeridade como foi a adesão de José Júlio de Antônio Martins.
A reeleição de vereadores ligados a juventude (ODON em Currais Novos e ERALDO em São Gonçalo), bem como o desempenho de outros (tais como o RODRIGO BICO e o RAONI em Natal, ou a MARA em Parnamirim) nos permitem apresentar diálogos promissores com este setor, que precisam ser acompanhados.
A vitória de Manoel Cândido merece consideração especial, tanto pelo grau de ameaça por termos derrotado uma quadrilha que hoje está presa e que assassinou nosso companheiro Ednaldo, (a quem sugiro dedicarmos esta reunião), como pelos desafios de governar um município com 27 distritos espalhados em assentamentos agrários sem estrutura e com a crise da produção de caju.
E então é neste cenário que teremos que nos preparar para o próximo período. Novas perguntas atormentam meu cérebro:
1-      Qual o horizonte a pensar? Dois anos (2014), quatro anos (2016) ou oito anos (2020)?
2-      Como enxergamos o partido nesses horizontes? Com quantos filiados? Coo serão os governos das prefeituras que vencemos em 2012? Quantas queremos alcançar em 2016? Quais as cidades prioritárias para que o PT tenha presença política? Quantos parlamentares? Quantos setoriais organizados? Quantos quadros partidários preparados para aplicar essa política?
3-      Com quais setores políticos faremos uma composição para buscar confrontar o conservadorismo que levou à vitória de Rosalba em 2010 e que está em franco declínio? Quais partidos? A reedição da Frente Brasil Popular (PT-PC do B- PSB + PDT) é viável? Faremos flexão até o PSD? hipótese especialmente reforçada após a vitória do Haddad em São Paulo e pela presença do PSD no Rio Grande do Norte, bem como das conversas públicas mantidas entre o PT nacional, Dilma e Kassab.
4-      Como nos portaremos no PED (Processo de Eleições Diretas) de 2013?

Peço desculpas por também não ter respostas a muitas dessas perguntas, mas quero poder construir junto com muitas outras cabeças e braços que tenham a referência no 13 dentro da estrela vermelha. E é justamente aí que quero discutir nossa participação em governos.
Aquele DNA da origem do PT potiguar a que me referi tem uma verdadeira aversão a composição e uma forte tendência a segregação. Em muitos municípios a participação ou a não participação em governos tem sido o principal motivo das nossas divisões. Por um lado, companheiros com pouca solidez política são coptados pelas administrações e passam para o lado do prefeito de turno, por outro, companheiros valorosos se afastaram por não participarmos ou por se decepcionarem, alguns inclusive terminaram em outros partidos, cito o Rangel em Caicó, o Paulo Sidney em Mossoró e o Navegantes em Ceará-Mirim, que apesar de terem deixado o PT não conseguem cortar o cordão umbilical nem que a sociedade os veja como ex-petistas. O exemplo mais claro que me vem a cabeça é da própria saúde, com Ion, Marise e outros mais. Não agregaremos mais capacidades para responder a esses desafios, pelo contrário, nos dispersaremos e convocaremos a militância a votar e apoiar A ou B na próxima eleição.
Para cumprir as tarefas que a sociedade potiguar nos exige, precisaremos de muitos desses, de muitas Virgínias, Ciprianos, Boscos, Alexs, Ions, Marizes, Geraldos, Fernandos, Severinos e Raimundos. Nos exigirão flexibilidade, garganta larga, capaz de engolir sapos, bois outras coisas mais. Mas a realidade nos exige e muito, que sejamos tal e qual Maria do Sindicato, do PT e de Pureza. Humildes, acolhedores, sinceros e agregadores.
Companheiros, encerro estas linhas fazendo um apelo a este encontro: os desafios impostos ao PT do RN exigem que abracemos as nossas responsabilidades, que nos dêmos as mãos e que evitemos expulsões. Invocar a autoridade da maioria, ao invés de fortalecer esta ética da unidade fará com que criemos cisões que irão manter o caminho da dispersão de nossos quadros. O estalinismo e o trotsquismo, irmãos siameses, morreram há 22 anos na queda daquele poderoso muro.
E se assim a realidade se apresentar, eu continuo filiado, mas uso a máxima sempre colocada por Mineiro em alto e bom tom, dessa política, só assisto: EU TÔ FORA!
   E VIVA A PÁTRIA PALESTINA, LIVRE, SOBERANA, DEMOCRÁTICA E LAICA!
   Natal, 1º de dezembro de 2012
Geraldo Pinto, geólogo, petista, petroleiro, botafoguense, abecedista e pai da Ana Paula.

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