Reproduzo Artigo do Companheiro Deputado José Genoíno (PT-SP)
A crise tem torcida
Nos últimos dias, em duas ocasiões, foram divulgados números que surpreenderam a todos.
A pesquisa do Instituto Datafolha, publicada dia 5, apontou um novo recorde na aprovação do presidente Lula. Ele foi considerado “ótimo ou bom por 70% dos brasileiros, maior aprovação de um presidente desde 1990, no período da redemocratização.” O estudo também destacou um crescimento da avaliação positiva do Presidente Lula na região Sudeste e na região Sul e entre os mais jovens e os mais escolarizados. Ainda segundo o Datafolha, 78% dos entrevistados crêem que sua vida será melhor no ano que vem e para 65% do total, o Brasil também vai melhorar.
Na terça-feira (9), o IBGE anunciou o aumento de 6,3% no Produto Interno Bruto (PIB). Foi a maior taxa acumulada em 12 meses desde o início da série, em 1996. No trimestre, o crescimento do PIB foi de 6,8%. Índice acima de todas as expectativas.
É evidente que estes dados guardam relação entre si. O recorde de aprovação do governo e de Lula é uma das conseqüências das mudanças implantadas a partir de 2002.
Temos reafirmado constantemente nossa convicção que o Governo Lula interrompeu a agenda neoliberal que vinha sendo imposta no Brasil, transformando o Estado de um ente passivo em um agente ativo, indutor e definidor do desenvolvimento e de políticas públicas inclusivas e poderosas. Foi este movimento que criou condições para o crescimento e trouxe robustez à nossa economia.
Mas, enquanto o Brasil colhe frutos por ter rompido com os fundamentos neoliberais, as economias mais ricas do planeta começam a sofrer as conseqüências pelo colapso destes mesmos princípios. A crise coloca em xeque os pressupostos do modelo neoliberal, do Estado Mínimo, da desregulamentação e da globalização, como valor em si. Mesmo o corte de gastos públicos até então propagado e altamente defendido, está em xeque.
É claro que a economia brasileira esta integrada ao mundo e uma crise desta magnitude deverá ser sentida por nós. Mas a diferença é que agora o Brasil é outro!
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Benjamin Steinbruch, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, num artigo publicado antes da divulgação do crescimento do PIB, diz que “o Brasil entrou na atual crise bem preparado para enfrentar as turbulências. Nas anteriores, pela falta de dólares, o país era sempre um dos primeiros a quebrar e a correr para o pronto-socorro do FMI. Desta vez, então, o país não vai quebrar. Concordo com essa avaliação dos economistas, uma excelente notícia”.
O jornal O Valor Econômico publicou uma pesquisa realizada pela Fiesp com 1.205 empresas entre 1º e 20 de novembro, mostrando que a maioria das indústrias paulistas é otimista em relação a 2009. “Conforme o estudo, 39% dos entrevistados acreditam que as vendas crescerão em relação a 2008 e 36% prevêem repetir o bom resultado deste ano. Ou seja, para 75% dos empresários da indústria paulista as perspectivas para o próximo ano são muito boas. Só 22% projeta queda em relação a este ano. No quesito emprego, 20% prevêem contratar mais, 55% esperam manter o quadro de funcionários e apenas 24% prevêem cortes.”
No mesmo jornal, Mauro Leos, analista da Moody’s (uma das três maiores agências de classificação de risco de crédito e a única que ainda considera a dívida do governo federal do Brasil como investimento especulativo), diz: “o Brasil não está em crise e a qualidade de crédito do governo brasileiro não piorou. É uma boa notícia e mostra que o país realmente passou por mudanças importantes nos últimos anos. Antes, uma desvalorização cambial sempre trazia problemas para o crédito do governo”, conta.
Um estudo divulgado pela consultoria britânica CEBR (Centro para Pesquisas Econômicas e de Negócios) revela que a crise econômica global pode elevar a economia brasileira da décima para a oitava posição no ranking das maiores economias do mundo. Pois, “o Brasil deverá crescer acima da média mundial e está menos exposto à crise do que em ocasiões anteriores. O CEBR prevê ainda uma queda ligeira do PIB brasileiro entre 2008 e 2009 em dólares (de US$ 1,7 trilhão para US$ 1,6 trilhão), mas ainda assim bem menor do que a maioria das principais economias globais.”
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Ao contrário dessas opiniões, pesquisas e estudos, o sentimento da oposição e de um setor da mídia é de torcida para que a crise “quebre” o Brasil. Se não, como explicar tais manchetes: “Ainda sem o impacto da crise, PIB cresce no terceiro trimestre”, “Crise freia o País no auge do seu crescimento”, “Antes da crise, a economia cresce 6,8%”?
Uma nota na coluna Toda Mídia, do jornal Folha de S.P. do último dia 3, informava que o jornal inglês Financial Times (que também diz que o Brasil sairá ileso da crise) fez uma reportagem sobre a avaliação da CBI, a CNI britânica, de que a "mídia ajudou a aprofundar a crise". A entidade cobrou a PCC, comissão de reclamos sobre imprensa, por não agir contra "manchetes descuidadas". "Rumores sem base foram espalhados sobre instituições", usando "linguagem melodramática, declarações sem fonte definida e sugestões de que problemas de uma instituição estariam passando para outras". Em suma, para a CBI, o "gerenciamento da crise ficou mais difícil por causa das mudanças no setor de mídia". Talvez seja este o objetivo daquelas manchetes...
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Para nós, o importante agora, mais do que sair em busca de pressupostos culpados por uma crise que ainda não mostrou seu alcance, é a percepção das grandes mudanças que aconteceram no Brasil e das que estão acontecendo no mundo. Do colapso dos pressupostos neoliberais e de suas implicações ideológicas e estratégicas na disputa pela hegemonia, ainda teremos muito a debater. Na verdade, este será o verdadeiro debate a partir de agora.
O papel imediato do PT é ajudar o governo na condução do país. Serão dois anos de muita briga e, como vimos, ninguém está brincando. Temos de trabalhar muito para enfrentar os reflexos da crise internacional no Brasil, garantindo o crescimento, os programas prioritários, as políticas sociais de distribuição de renda e de inclusão social. Também temos que batalhar para, ao mesmo tempo, fazer nossa parte na sustentação política do Governo Lula no Congresso Nacional, aprovando, como já fizemos, as medidas necessárias para administrar e governar a crise. Nossa unidade e firmeza na defesa das políticas adotadas pelo governo Lula é fundamental para que possamos construir a vitória e a consolidação do nosso projeto de um país soberano, democrático e justo.
Abraços
Genoino
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