Questão de lógica

Zé Dirceu


 

(artigo publicado no jornal Brasil Econômico em 22 de julho de 2010)

A atual eleição tem sido permeada no campo econômico pelo debate sobre crescimento, inflação, câmbio, juros e déficit público. Interessante notar como tais temas desnudam as duas visões de país do tabuleiro eleitoral.

No plano internacional, EUA e Europa divergem quanto a ação pública a ser empregada contra a crise. Ambos têm hoje taxas preocupantes de desemprego e reduzida ocupação da capacidade instalada. Enquanto os EUA defendem a continuidade do apoio estatal, a Europa teme que a deterioração econômica crie um déficit fiscal insolúvel e, contra isso, corta direitos sociais e diminui as políticas de bem-estar.

No Brasil, apesar do sucesso do governo Lula em proteger a economia na turbulência de 2009, o raciocínio neoliberal que faz governos europeus querer cortar gastos sociais encontra eco. Muitos economistas e políticos não aprenderam nada com o sucesso brasileiro na pior crise desde 1929 e defendem que a melhor proteção à instabilidade externa é cortar ao extremo os gastos públicos. Ocorre que a estrutura pública é um componente fundamental para o aquecimento da economia em períodos de crise. Por isso, o governo Lula ampliou o Bolsa Família e manteve em funcionamento os instrumentos públicos fundamentais à continuidade do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).

A opção por não privatizar os bancos estatais deu ao Palácio do Planalto as condições necessárias para continuar abastecendo com crédito a economia. Aliada à redução do IPI, tal medida manteve em pé a indústria e impediu o aumento das demissões. Vale notar que a relação dívida pública/PIB vem caindo nos últimos anos, indicador que de fato interessa observar.

A consequência é que hoje o Brasil vive a perspectiva de crescimento elevado nos próximos quatro anos, com forte geração de emprego —serão 2,5 milhões só em 2010. Tais medidas não existiriam se fosse aplicado o receituário do PSDB. A preocupação com o déficit fiscal, a exemplo do que aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso, faz as administrações estaduais tucanas comprimirem programas de "eficiência da máquina pública". Prejudica-se o planejamento, a gestão de programas e dos investimentos, a fiscalização dos terceirizados e a prestação de serviços públicos como saúde, educação e assistência social. Outro movimento no mesmo sentido é o arrocho salarial. Marca do neoliberalismo tucano, tais cortes são complementados pelas privatizações.

A lógica de todas essas ações é de reduzir o tamanho do Estado, o que inibe toda a cadeia de renda, investimentos, produção e consumo criada no Governo Lula e que desemboca no desenvolvimento do país. Neste ponto reside a diferença fundamental entre o que querem os tucanos e o que propõem o PT, os partidos aliados e a candidata Dilma Rousseff ao país. Neste momento, nossa preocupação deve ser criar condições para ampliar os investimentos privados. E isso se faz, por exemplo, com novas oportunidades como o PAC, a Copa do Mundo, as Olimpíadas, o Pré-sal, a Transnordestina, o Trem-bala, enfim, grandes obras de infraestrutura.

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