As lições de 2008
Vastos setores da mídia, logo após o fechamento das urnas, se apressavam em anunciar a derrota do PT e o encolhimento eleitoral do governo Lula no segundo turno e a consolidação de José Serra como o candidato da aliança demotucana.
Mas, como pode ser derrota um crescimento de 36% em relação ao resultado de 2004, ter o maior percentual de reeleições (56%) e aumentar 17% o número total de votos? É claro que não obtivemos o resultado por nós idealizado, mas quem olha o mapa político do Brasil, não pode desconsiderar o cinturão petista em torno das principais capitais e o fato do PT ter saído das eleições como o segundo partido em força eleitoral, que vai governar em nível municipal para quase 20 milhões de brasileiros. É mais um caso onde a vontade política tenta inverter a racionalidade dos fatos.
Da mesma forma, avaliar que o governo saiu menor politicamente das eleições é adaptar a realidade aos interesses políticos. As obras e os programas do governo foram disputados até pela oposição. O governo foi elogiado por todos os candidatos, para os quais, inclusive, a maior desgraça era ser acusado de ter sido adversário de Lula. Até mesmo a “tendência” à reeleição dos atuais prefeitos foi fruto do bom estado da economia brasileira. Na verdade, o governo Lula saiu das eleições intacto, com sua popularidade e adesão recordes inalteradas.
E a proclamada e comemorada consolidação da candidatura de Serra está, pelo menos por enquanto, circunscrita à realidade política paulista. É evidente que a vitória de Kassab é um dado importante e decisivo. Mas, não levar em conta que uma das duas pernas desta aliança (DEM) foi varrida eleitoralmente no resto do país e que o PSDB não obteve nenhuma vitória relevante, também é um esforço para que a vontade e o interesse políticos condicionem a realidade.
Na verdade, as lições que devemos tirar destas eleições são outras. Em primeiro lugar, a importância cada vez maior de alianças políticas para vencer as eleições e para governar. Esta é a principal lição que as eleições de 2008 deixaram. O PT deve colocar esta questão no centro do seu debate interno. A continuidade do nosso projeto está vinculada a nossa capacidade de aglutinar forças políticas e de consolidar o bloco de esquerda no Brasil.
Estas alianças deverão ser, acima de tudo, programáticas que exigirão do nosso partido uma identidade, uma visibilidade dos seus valores, dos seus símbolos e da sua militância. O resultado eleitoral deixa isto bem claro: ou o PT pensa estrategicamente ou vai se emaranhar numa pauta pequena. A questão é afirmar um projeto político claro e não melhorar a comunicação ou se recompor com este ou aquele setor social. Nas cidades onde o PT se apresentou por inteiro, vermelho e sem nuances foi vitorioso. Naquelas onde ficamos na defensiva política, desprezamos o embate ideológico e aceitamos a pauta imposta pela mídia, nos intimidamos e fomos derrotados.
Estas alianças, é claro, devem estar norteadas pela continuidade do projeto iniciado pelo governo Lula. Este ponto é o outro dado importante revelado pelas eleições deste ano. A eleição foi marcada pelo tema da justiça social na saúde e na educação, pelo debate do imposto progressivo, pelo tema do acesso universal às políticas públicas, pelas propostas de saídas aos impasses urbanos como transporte público. Portanto, temas que envolvem um debate politizado sobre o projeto nacional e que carregam um corte ideológico claro. Por isso, devemos ressaltar a ligação destas políticas municipais com o projeto nacional que estamos construindo para o País. Um projeto democrático e popular que está sendo viabilizado pela via democrática, pela via eleitoral e que envolve uma disputa de valores, de idéias, de programas para a melhoria das condições de vida da população.
Estas lições são importantes para um partido de esquerda como o PT, que se referencia nos valores do socialismo democrático, mesmo na disputa municipal. Temos de fazer dessa disputa uma trincheira na batalha pela hegemonia democrática na sociedade brasileira. Além deste projeto definir o caráter das nossas administrações - o “modo petista de governar” deve de ser temperado com ingredientes ideológicos - é ele que vai ser o corte, a questão central da disputa de 2010.
Isto se torna ainda mais relevante com a perspectiva de uma crise econômica mundial. Os pressupostos do neoliberalismo ruíram, o céu prometido pelo mercado auto-regulado virou um inferno. Estado-mínimo e desregulamentação são agora palavrões. É neste cenário, que temos que rediscutir nosso projeto nacional. O papel do Estado, a importância das políticas públicas e a agenda da soberania estarão no centro da mesa.
Por último, estas eleições também revelaram a falência, a caducidade do nosso sistema político eleitoral e partidário. É urgente uma reforma política, que trate do financiamento público, da fidelidade partidária, das eleições proporcionais, trate de um sistema de representação eleitoral que aproxime o eleitor do eleito. Suspeito que o Brasil não suportará muito tempo sem uma mudança profunda no seu sistema político. Caso tudo fique como está, rumaremos para o abstencionismo, para a negação da política como portadora de projetos e programas, cuja conseqüência pode ser a propagação de ações antidemocráticas como a que vimos no Rio de Janeiro depois das eleições.
Abraços
José Genoino Neto
Deputado Federal pelo Partido dos Trabalhadores
Geólogo, Mestre em Gestão de empresas, botafoguense, palmeirense, esposo da Gerte Rídia e pai de Ana Paula, Letícia e Ramon. Após 32 anos como geofísico na Petrobras, dedico-me a uma paixão profissional que é a consultoria em GESTÃO DE PROJETOS. Aqui mostro o quanto minha experiência e formação profissional, aliadas às lições extraídas do livro "OS 7 HÁBITOS DAS PESSOAS ALTAMENTE EFICAZES" de Stephen Covey e da Fundação Franklin Covey ajudam organizações, empresas e pessoas a obter sucesso.
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