A flor do Lácio

O parlamento português aprovou – após 16 em debate – o acordo ortográfico da língua de Castro Alves e Fernando Pessoa. Além de pátria mãe de nossa língua, Brasil, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde já ratificaram o texto. Faltam Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Timor Leste, que ainda não era estado nacional quando da conclusão do texto original em 1992.

A unificação da regra válida para a língua portuguesa escrita abre caminho para o fortalecimento desta e sua democratização. Primeiro, ao unificar a regra em todos os países lusófonos, preserva-se a língua, pois esta passa a ser um mediador mais eficiente das relações que estabelece. Segundo, o acordo traz grande avanço ao incorporar na estrutura gramatical do português, desde seu berço até as mais recentes nações lusófonas, a evolução e o sincretismo de nossa língua.

O fim do trema e do acento diferencial – entre outros – constitui aproximações importantes entre a regra culta e a forma com que a fala é praticada em nosso país. O aperfeiçoamento é uma tendência das línguas, que incorporam as mudanças sociais e as novas necessidades que surgem na comunicação. Numa época de profundas transformações no espaço social e cultural, de aproximação e distanciamento dialéticos entre os povos, a língua tem dois caminhos mais comuns: atualizar e democratizar-se ou apegar-se desesperadamente à tradição, tornando elitizada. Felizmente vamos pelo primeiro.

Esse acordo representa avanço numa área que tem cada vez maior importância: a democratização da cultura. Os bens culturais estão cada vez mais enclausurados em salas distante do povo e sem vida e os povos cada vez mais negligenciados em sua identidade. É bom sinal que nossa língua faça outro trajeto, aproximando-se de nosso povo e construindo a valorização da identidade dos povos lusófonos.

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